sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Os fantasmas da Guerra Civil Espanhola e a independência da Catalunha

A guerra Civil Espanhola terminou no dia 1 de Abril de 1939, colocando fim a um conflito tenebroso, naquela que foi a ante câmara do que sucederia passados alguns meses na Europa. Passaram 78 anos desta tragédia, mas apesar do tempo passado, os seus fantasmas continuam bem vivos...
A minha família, tal como muitas outras, também passou pela guerra, felizmente sem vítimas a registar, embora o meu bisavô por pouco não tenha sido fuzilado por falangistas. Apesar de ser a favor de Franco e contra as ideias demasiado progressistas da República Espanhola, era acima de tudo um humanista, que defendia que se devem combater e debater as ideias, nunca os homens, razão pela qual tinha um amigo comunista a quem deu trabalho e guarida durante a guerra. Apesar de quase pagar com a vida esse gesto, que poderia colocar em perigo toda a família, nunca se arrependeu do que fez, e a história de amizade continuou até ao fim das suas vidas, apesar de politicamente terem ideias opostas.
Infelizmente na maioria dos casos as famílias não atravessaram a guerra de forma tão pacífica. Muitos (em Espanha e também fora de Espanha) ainda carregam os fantasmas de uma guerra que terminou há 78 anos, havendo muitas famílias não tiveram a sorte de sobreviver à guerra nem aos anos que se seguiram, e outras continuam sem poder sepultar os seus familiares desaparecidos durante e após a guerra.
Já acompanho há muitos anos o que se passa na Catalunha e em Espanha, os anos suficientes para conseguir ver para além do que parece óbvio, e para ver de que forma os independentistas se aproveitam dos fantasmas do passado de Espanha, usando a mesma estratégia que os nacionalistas usaram para destruir a Jugoslávia. Vitimização, invenções históricas, delírios de grandeza perdida, opressão, repressão, perseguição e ameaças às vozes discordantes que se opõem aos independentistas.
O que os independentistas pretendem nunca foi um referendo, O que pretendem é a independência e a soberania da Catalunha sobre Aragão, a Comunidade Valenciana e as ilhas Baleares, aquilo que eles chamam de "paisos catalans"!
Hoje, com a declaração de independência e a activação do artigo 155º, que suspende a autonomia da Catalunha, abre-se um novo ciclo na Península Ibérica e em Espanha. Pessoalmente, é também um dos dias mais tristes da minha vida...
Prevejo dois cenários para o que se vai passar no curto prazo:
Com a activação do artigo 155, o Estado Espanhol dissolve o Parlament e o Govern da Catalunha, retirando a tutela dos Mossos D´Esquadra à Generalitat e enviando a Guardia Civil e as forças anti.-distúrbio em massa. Por seu lado, os partidos independentistas iniciarão o seu plano de resistência e sublevação, procurando capturar pontos estratégicos como o aeroporto de Barcelona, edifícios governamentais, esquadras de polícia e os meios audiovisuais, o mesmo se aplicando às restantes localidades da Catalunha. Se o Estado Espanhol não recuperar o controlo da Catalunha, irá enviar as Forças Armadas, e isso dará início a uma guerra civil, passados 78 anos de paz e quase 40 de Democracia em Espanha, e o regresso do ódio, destruição e morte a Espanha, e a destruição das economia espanhola e por arrasto, da portuguesa. Este é o cenário a que chamo de Tempestade perfeita.
O outro, mais optimista, antevê que o Estado Espanhol tenha o controlo dos Mossos D´Esquadra e que esta força policial, em conjunto com a Guardia Civil e as forças anti distúrbio reponham a normalidade constitucional, e que o povo da Catalunha na sua maioria não apoie a independência. Neste cenário, o controlo dos Mossos D ´Esquadra e o comportamento da população é essencial, pelo que é um cenário com mais incertezas que certezas. No entanto, caso este cenário seja o cenário que se irá desenrolar, irá dar lugar a novas eleições, possivelmente um governo de unidade e por fim o levantamento da suspensão da autonomia da Catalunha.
Em qualquer dos casos, já é palpável o clima de tensão entre independentistas e não independentistas na Catalunha e em Espanha. Já há divisão e conflitos pessoais entre as pessoas, mesmo dentro das famílias, pelo que a fractura social já é visível. É uma questão de tempo até este clima de tensão degenerar em ódio e violência...
Tudo o que um dia previ e temia está a acontecer diante dos meus olhos...Não é difícil imaginar como me sinto por ver toda esta cadeia de acontecimentos, e não poder fazer nada. Independentemente do que aconteça a seguir, espero que a humanidade e a tolerância prevaleçam sobre o ódio e a barbárie como aconteceu na minha família, durante os anos tenebrosos da guerra e da ditadura franquista, e que o cataclismo de 1936/1939 não se repita.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O "assalto" à margem esquerda do Rio Eufrates

Depois do Exercito Árabe Sírio (SAA) colocar um ponto final no cerco às tropas sitiadas de Deir Ez-zor há umas semanas, deu-se início a uma nova fase da guerra.

Com a situação operacional no sul sob controlo, acabando com a iniciativa do Daesh, colocando-as em posição defensiva, prevê-se que a SAA opte por fazer um movimento envolvente em torno das forças do Daesh localizadas na cidade de Deir Ez-Zor em detrimento da luta urbana, evitando desgastar as suas forças numa batalha que à partida já venceu, focando-se na conquista da margem esquerda do rio Eufrates e no avanço em direcção à fronteira com o Iraque.

Situação operacional nos arredores de Deir Ez-Zor no dia 21 de Setembro de 2017

                                Fonte: Syrian civil war map

Soube-se que no dia 18 de Setembro as forças Tigre, comandadas por Suheil al-Hassan (um dos comandantes mais famosos da guerra civil na Síria), e apoiadas por elementos das forças especiais e força aérea russa, atravessaram com sucesso o Rio Eufrates perto do aeroporto de Deir Ez-Zor, conquistando Sabhah e Mazlum (esta anunciada há momentos).
Segundo informação veiculada pelo canal de Youtube Southern Front, o avanço da SAA tem sido dificultado pelo aumento do caudal do rio, provocado pelas descargas provenientes das barragens controladas pela SDF na zona de Al - Tabqah, por vários ataques suicidas do Daesh e por ataques provenientes do território controlado pela SDF (ver vídeo aqui), o que já levou a Rússia a lançar um aviso de que iria atacar as forças apoiadas pelos EUA (a SDF aceitou, há alguns meses, supostamente a pedido dos EUA, a inclusão de tropas da FSA (Exército Livre Árabe) no seu território para apoiar o ataque ao Daesh, circulando no Reddit a informação de que o ataque às tropas da SAA teria sido lançado por elementos afectos à FSA) caso as suas tropas fossem provocadas, por todos os meios disponíveis (ver artigo aqui).

Situação operacional na província de Deir-Ez-Zor no dia 21 de Setembro de 2017

                                Fonte: Syrian civil war map


Já as Forças Democráticas Sírias (SDF) iniciaram o ataque ao Daesh no dia 8 de Setembro,  em direcção à Zona a leste da cidade de Deir Ez-Zor, na margem esquerda do Rio Eufrates, tendo conquistado o quartel da brigada 113, nos arredores da vila de Al-Salihyah, e iniciando um ataque em direcção a As Suwar, apoiadas por ataques aéreos da Coligação (França, EUA e Reino Unido).

A razão deste avanço, quando a SDF está empenhada na conquista da cidade de Al-Raqah, prende-se com a tentativa de conquistar os poços de petróleo da província de Deir Ez-Zor, procurando estabilizar o flanco esquerdo do seu ataque com a conquista de As Suwar.

Localização dos poços de petróleo na província de Deir Ez-Zor

Fonte: GIsrael

A margem esquerda do rio Eufrates, altamente estratégica devido aos recursos petrolíferos que tem, é o principal "alvo de disputa" entre as forças da SDF  e da SAA.

No artigo do Financial Times"Inside Isis Ink: The journey of a barrel of oil", publicado em 2015, foi feito um trabalho de investigação sobre as receitas do Daesh provenientes da extracção de petróleo, tendo-se concluído que a sua principal fonte de receita provinha da província de Deir Ez-Zor, estimando-se a produção de petróleo proveniente da província se situe entre os 34.000 e os 40.000 barris de petróleo por dia (para além da produção de gás natural, estimada em 441 MMCF/D (Milhões de pés cúbicos por dia) de capacidade estimada segundo o artigo da EIA (Energy Industry Administration).
Os principais campos de petróleo em disputa são Al-Tanak, Al-Omar e Al-Taim, e têm uma produção entre os 17.400 e os 21.600 barris de petróleo.

 Localização dos poços de petróleo na província de Deir Ez-Zor



                                    Fonte: Financial Times



Localização das principais infraestruturas energéticas na Síria

                               Fonte: EIA

Quando  o Daesh conquistou o território, e, uma vez que as refinarias de petróleo da Síria estão localizadas em Banias e Homs, longe do alcance das suas forças, o Daesh decidiu construir refinarias móveis para refinar o petróleo. Estas refinarias móveis também são um activo a capturar pelos dois lados, pois a infraestrutura entre Deir Ez-Zor (oleodutos e gasodutos) e as refinarias encontra-se destruída, necessitando de investimento, pelo que capturando as refinarias móveis se poderia iniciar a refinação de petróleo enquanto a reparação dos oleodutos e gasodutos decorre.

Localização das refinarias móveis na Síria
                                    Fonte: Financial Times


Embora produção de petróleo e gás natural seja irrisória quando a comparamos com a produção de 5 milhões de barris por dia do campo de Al- Ghawar na Arábia Saudita (ver aqui), a sua captura é essencial para as forças de Al-Assad e para a SDF, de forma a reconstruir o país, assegurando não só o acesso a uma receita de exportação vital para assegurar a revitalização económica e o acesso a fundos monetários necessários para iniciar a reconstrução do país, mas também, no caso de Al-Assad, suprir as necessidades de consumo interno de petróleo, uma vez que o território controlado pelo Governo Sírio, que se viu privado do petróleo após a conquista do leste da Síria pelas forças do Daesh, é actualmente fornecido pelo Irão.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

A água como arma de guerra

A National Geographic Society divulgou no seu site um artigo baseado no trabalho realizado pela Guerilla Cartography sobre a a importância da água (o artigo pode ser consultado aqui).
Uma das secções do artigo faz referência à utilização da água como "arma de guerra" pelo Daesh, através da captura de barragens na região.

Este é um trabalho com bastante interesse, uma vez que realça a importância destas infraestruturas, sobretudo em áreas onde há escassez de água, nos quais o controlo de barragens assume um papel vital na estratégia de controlo territorial e das populações.

No caso da Síria, o controlo das barragens de Tishrin, no Rio Eufrates em 2012 pelas forças que se rebelaram contra o governo de Bashar al Assad provocou o corte das linhas de abastecimento a Al-Raqqah e Allepo, unificando o território controlado pelos rebeldes dos dois lados do Rio Eufrates. Em 2014 esta barragem foi por usa vez conquistada pelo Daesh. Em 2015 a barragem foi conquistada pelas forças curdas, e permitiu o ataque à cidade de Manbji e á tentativa das forças curdas de unirem o seu território ao território do cantão de Afrin, também controlado pelas forças curdas (o que foi evitado pela Turquia quando invadiu o território Sírio e conquistou Al-Bab).

O controlo das estações de tratamento e fornecimento de águas a leste de Allepo em Rasm Al saghir também permitiu ao Daesh cortar o fornecimento de água a Allepo, o que colocou em graves dificuldades quer as forças governamentais quer as forças rebeldes.

No caso das barragens de Al-Tabqah e Bath, também no Rio Eufrates, foram conqusitadas pelas forças rebeldes em 2013, tendo posteriormente sido conquistadas pelo Daesh em 2014, que também conuistou a cidade de Raqqah. Com a sua conquista, o Daesh obteve o controlo da reserva do lago Assad, a principal reserva de água da Síria. Aquando do início da batalha pela conquista de Raqqah, o Daesh ameaçou explodir a barragem, o que iria provocar a inundação das cidades de Raqqah e Deir ez-Zor, e provocar uma situação de seca severa nas cidades e explorações agrícolas abastecidas pela água da reserva. Felizmente, aquando do ataque das forças curdas à barragem e à cidade de Al-Tabqah, o Daesh optou por negociar a retirada das suas tropas para Raqqah em troca da cedência das barragens (ver aqui e aqui).

No caso do Iraque, quando o Daesh conquistou a barragem de Fallujah  fechou as comportas durante vários dias para privar do acesso a água das cidades (incluindo Najaf e Karbala) a jusante da barragem.
Aquando da tentativa de reconquista da barragem por parte das forças iraquianas, o Daesh abriu as comportas de forma a tentar destruir as forças atacantes, sem sucesso. A barragem acabou por ser conquistada pelas forças iraquianas em 2016.
A barragem de Mossul também preocupou as forças iraquianas quando foi conquistada pelo Daesh no dia 7 de Agosto de 2014, o que preocupou as autoridades iraquianas devido à possibilidade do Daesh provocar cortes no fornecimento de energia e água às cidades e populações abastecidas pela barragem, ou que o Daesh abrisse as comportas de forma a inundar e inutilizar as terras férteis e as cidades de Mossul, Tikrit e Bagdad. No entanto nada disso aconteceu, e as forças Peshmerga e iraquianas  recapturaram a barragem no dia 17 de Agosto. Embora houvesse preocupações de que a falta de manutenção da barragem pudesse provocar uma ruptura, essas preocupação não se vieram a materializar.

Este trabalho realça a importância destas infraestruturas vitais para as populações e territórios, podendo dar-nos pistas para o modus operandi dos futuros ataques do Daesh. É previsível que com o declínio do Daesh no Médio Oriente (face aos últimos desaires que sofreu) leve a que os ataques provenientes de células terroristas venham a aumentar, sobretudo na Europa, pelo que é necessário um reforço das medidas de segurança de infraestruturas vitais (nas quais se inserem naturalmente as barragens) e áreas nas quais existam grandes concentrações de população.
Tendo em conta a facilidade com que os terroristas de Barcelona obtiveram 120 bilhas de gás com as quais preparavam um ataque em larga escala (ver aqui) à catedral da Sagrada Família, é previsível que estas células terroristas tentem preparar ataques não só a monumentos visitados por milhares de pessoas, mas também a outro tipo de infraestruturas cuja destruição afectaria um  grande número de pessoas.


Fonte: Guerrila Cartography

Exército sírio termina o cerco da 137ª Brigada em Deir Ez-Zor

Segundo notícias avançadas pela Agência noticiosa Síria Al Masdar e pelo jornal  The Independent, as forças governamentais do exército sírio (Exército Árabe Sírio) acabaram de entrar na área em redor da base militar Panorama, onde se encontrava sitiada a 137ª Brigada do Exército Árabe Sírio, iniciando o fim do cerco imposto pelo Daesh em 2014 às forças sírias sitiadas na cidade de Deir Ez-Zor. Apesar de faltar ainda libertar a área em redor da Base aérea da cidade, prevê-se que nas próximas horas/dias o cerco termine.

Situação no terreno em 5 de Setembro de 2017
Fonte: Twitter - The Nimr Tiger


O cerco de Deir Ez-Zor começou com as tentativas do Daesh para conquistar a base aérea às forças governamentais no início de Setembro de 2014, sendo repelido pelas forças governamentais da 104 ª Brigada Aerotransportada sob o comando do Brigadeiro General Issam Zahareddine. Em Janeiro de 2015, o Daesh bloqueou todas as ruas e destruiu as comunicações das forças governamentais isoladas na cidade. Em Maio de 2015 houve novos combates entre as forças governamentais e o Daesh, tendo o Daesh conquistado a ilha de Sakr. O avanço das forças do Daesh na Síria e a conquista de Palmira/Tadmor colocaram sérias dificuldades ao exército governamental sírio para abastecer as forças sitiadas e tentar acabar com o cerco, levando a que houvesse rumores de que o Governo sírio estaria a preparar a evacuação das forças sitiadas, o que não veio a acontecer.


Situação no terreno em Janeiro de 2017
Fonte: Syrian Civil war update 2017

Este cenário levou a que fosse preparada uma operação logística complexa para fornecer bens de primeira necessidade, combustível e munições à cidade sitiada, de forma a manter quer as forças governamentais quer os cerca de 120.00 civis.

Apesar do fim do cerco a Deir Ez-Zor ser expectável devido ao avanço aparentemente imparável das forças sírias, a velocidade com que as forças governamentais têm conquistado território ao Daesh tem impressionado os analistas, tendo em conta os avanços do eército desde o início do ano. O fim do cerco da cidade tem uma carga simbólica bastante significativa, transmitindo às forças governamentais uma enorme carga moral, prevendo-se que nos próximos meses seja previsível que o Daesh seja totalmente expulso do país, acentuando o seu declínio quer na Síria quer no Iraque.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Exército sírio conquista o Monte Bishri ao Daesh

Segundo informação disponibilizada através do twiter, fontes pró-governamentais acabaram de divulgar a informação que o exército árabe sírio acabou de conquistar o monte Bishri (Jebal Bishri), a cerca de 40 quilómetros da cidade estratégica de Deir ez-Zor.


Distância entre o Monte Bishri e a cidade de Deir ez-Zor

                                          Fonte: Syrian civil war map


Esta elevação, situada entre as províncias de Raqqah e Deir ez-Zor era um dos últimos obstáculos naturais ao avanço do exército sírio em direcção à cidade, para além da cidade de Al Suqnah, um pouco mais a sul da elevação. Previa-se uma batalha com bastantes baixas de ambos os lados caso as forças Sírias atacassem directamente esta elevação, prevendo-se que em vez de um ataque directo optassem por um movimento envolvente em torno da elevação e posterior cerco às posições ocupadas do Daesh, a exemplo do que foi feito na província de Homs, pelo que o ataque directo surpreendeu-me, também devido à rapidez com que as tropas o conquistaram.

O exército sírio encontra-se sitiado numa parte da cidade de Deir ez-Zor desde Setembro de 2014, controlando as áreas envolventes do aeroporto e da base militar Panorama, estando a sua área de influência dividida em duas partes pelo Daesh desde a ofensiva que este lançou no início de 2017.

Desde o início da ofensiva do exército árabe sírio que começou no início de 2017, o exército tem conquistado grandes porções de território ao Daesh, coroando de sucesso a sua ofensiva em três frentes (Raqqah, Homs e Palmyra) com o apoio das forças armadas russas, colocando as forças do Daesh em constante pressão. A conquista de Al Suqnah permitiu ao exército árabe sírio iniciar o envolvimento das forças do Daesh na província de Homs, cercando-as em duas bolsas, o que irá permitir libertar tropas para a ofensiva planeada em direcção à província de Deir ez-Zor e colocar um término ao cerco de três anos.


Mapa topográfico do Monte Bishri

                                              Fonte:topographicmap.com

Deir ez-Zor é a maior cidade na parte oriental da Síria. Antes do início do conflito armado a cidade tinha cerca de 240.000 habitantes, sendo a sétima maior do país em população. A província de Deir ez-Zor é uma das mais importantes na Síria devido às suas reservas de petróleo, tendo igualmente explorações agrícolas e de criação de gado.
Para além disso, o controlo de Deir ez-Zor irá permitir às forças Sírias iniciar o ataque a Al Mayadin e Al Qaim, na região fronteiriça entre a Síria e o Iraque.


Situação na frente leste da Síria em 31 de Agosto de 2017

                                          Fonte: Syrian civil war map

terça-feira, 22 de agosto de 2017

A expansão da intervenção militar dos EUA no Afeganistão

A notícia publicada hoje no jornal Guardian (ao qual podem aceder através deste link ) dá-nos conta de uma grande mudança na estratégia militar dos EUA e de Donald Trump (a exemplo do que vem sendo habitual  nas últimas decisões do Presidente dos EUA).

O Presidente anunciou que irá alterar a sua decisão de retirada das tropas do Afeganistão, optando antes por um reforço da presença no país, embora não tenha anunciado publicamente qual será o aumento de tropas do contingente americano no país. Sabe-se no entanto que a Casa Branca já deu permissão ao Pentágono para o aumento do seu contingente em 4.000 militares, aumentando o contingente actual de 8.400 efectivos no terreno.

Apesar de à primeira vista não deixar de ser um contra senso o Presidente Trump ter anunciado durante a campanha eleitoral que iria reduzir a presença americana no Afeganistão e agora contradizer uma das suas promessas eleitorais, esta mudança de decisão é na verdade bastante acertada e ponderada do ponto de vista estratégico.

Por muito mau que pareça os EUA colocarem mais tropas no “matadouro” que se tornou o Afeganistão,  esta é na verdade uma jogada estratégica inteligente por parte da equipa de assessores de Trump.

Com estas declarações, Trump coloca os governos paquistanês e afegão em cheque,  ameaçando um dos maiores aliados regionais da China na sua estratégia de contenção do poderio indiano (e também um dos maiores mercados de armas para a China), e lança uma “operação de charme” à India (que é o maior mercado militar da Rússia) e com isso ameaça alterar todo o equilíbrio de poder da região.
Ao mesmo tempo, os EUA conseguem manter uma presença militar perto do Irão, mantendo o seu regime sobre pressão e não permitindo que o Irão e Paquistão unam forças, nem que o Irão aumente a sua influência regional através de uma expansão para o Afeganistão, o que lhe iria permitir controlar a região estratégica do Balochistão, para além do facto do Paquistão ter ogivas nucleares no seu arsenal dissuasor, o que ira aumentar consideravelmente o risco de ameaça para Israel, inimigo declarado do Irão.

Fonte: Quora.com

Se com o aumento de tropas os EUA  conseguirem o que parece ser a sua intenção de “obrigar” os governos paquistanês e afegão a serem mais cooperantes no terreno,mantendo o regime taliban sobre controlo, salvaguardando os seus interesses no país e captar o apoio da Índia contra a China, este é um preço aceitável para as baixas militares e civis esperadas. De forma a evitar a redução dos índices de popularidade do Presidente Trump, para não prejudicar as suas hipótese de ser reeleito, é muito provável que este aumento de tropas seja feito com recurso a empresas privadas como a Academi (cujo anterior nome é Blackwater), agradando assim a um dos seus maiores apoiantes durante as eleições (Erik Prince). Resta ver qual será a reacção da troika Rússia/China/Irão a este aumento do efectivo militar americano.