Uma das secções do artigo faz referência à utilização da água como "arma de guerra" pelo Daesh, através da captura de barragens na região.
Este é um trabalho com bastante interesse, uma vez que realça a importância destas infraestruturas, sobretudo em áreas onde há escassez de água, nos quais o controlo de barragens assume um papel vital na estratégia de controlo territorial e das populações.
No caso da Síria, o controlo das barragens de Tishrin, no Rio Eufrates em 2012 pelas forças que se rebelaram contra o governo de Bashar al Assad provocou o corte das linhas de abastecimento a Al-Raqqah e Allepo, unificando o território controlado pelos rebeldes dos dois lados do Rio Eufrates. Em 2014 esta barragem foi por usa vez conquistada pelo Daesh. Em 2015 a barragem foi conquistada pelas forças curdas, e permitiu o ataque à cidade de Manbji e á tentativa das forças curdas de unirem o seu território ao território do cantão de Afrin, também controlado pelas forças curdas (o que foi evitado pela Turquia quando invadiu o território Sírio e conquistou Al-Bab).
O controlo das estações de tratamento e fornecimento de águas a leste de Allepo em Rasm Al saghir também permitiu ao Daesh cortar o fornecimento de água a Allepo, o que colocou em graves dificuldades quer as forças governamentais quer as forças rebeldes.
No caso das barragens de Al-Tabqah e Bath, também no Rio Eufrates, foram conqusitadas pelas forças rebeldes em 2013, tendo posteriormente sido conquistadas pelo Daesh em 2014, que também conuistou a cidade de Raqqah. Com a sua conquista, o Daesh obteve o controlo da reserva do lago Assad, a principal reserva de água da Síria. Aquando do início da batalha pela conquista de Raqqah, o Daesh ameaçou explodir a barragem, o que iria provocar a inundação das cidades de Raqqah e Deir ez-Zor, e provocar uma situação de seca severa nas cidades e explorações agrícolas abastecidas pela água da reserva. Felizmente, aquando do ataque das forças curdas à barragem e à cidade de Al-Tabqah, o Daesh optou por negociar a retirada das suas tropas para Raqqah em troca da cedência das barragens (ver aqui e aqui).
No caso do Iraque, quando o Daesh conquistou a barragem de Fallujah fechou as comportas durante vários dias para privar do acesso a água das cidades (incluindo Najaf e Karbala) a jusante da barragem.
Aquando da tentativa de reconquista da barragem por parte das forças iraquianas, o Daesh abriu as comportas de forma a tentar destruir as forças atacantes, sem sucesso. A barragem acabou por ser conquistada pelas forças iraquianas em 2016.
A barragem de Mossul também preocupou as forças iraquianas quando foi conquistada pelo Daesh no dia 7 de Agosto de 2014, o que preocupou as autoridades iraquianas devido à possibilidade do Daesh provocar cortes no fornecimento de energia e água às cidades e populações abastecidas pela barragem, ou que o Daesh abrisse as comportas de forma a inundar e inutilizar as terras férteis e as cidades de Mossul, Tikrit e Bagdad. No entanto nada disso aconteceu, e as forças Peshmerga e iraquianas recapturaram a barragem no dia 17 de Agosto. Embora houvesse preocupações de que a falta de manutenção da barragem pudesse provocar uma ruptura, essas preocupação não se vieram a materializar.
Este trabalho realça a importância destas infraestruturas vitais para as populações e territórios, podendo dar-nos pistas para o modus operandi dos futuros ataques do Daesh. É previsível que com o declínio do Daesh no Médio Oriente (face aos últimos desaires que sofreu) leve a que os ataques provenientes de células terroristas venham a aumentar, sobretudo na Europa, pelo que é necessário um reforço das medidas de segurança de infraestruturas vitais (nas quais se inserem naturalmente as barragens) e áreas nas quais existam grandes concentrações de população.
Tendo em conta a facilidade com que os terroristas de Barcelona obtiveram 120 bilhas de gás com as quais preparavam um ataque em larga escala (ver aqui) à catedral da Sagrada Família, é previsível que estas células terroristas tentem preparar ataques não só a monumentos visitados por milhares de pessoas, mas também a outro tipo de infraestruturas cuja destruição afectaria um grande número de pessoas.
Fonte: Guerrila Cartography
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